Por que o livro desenvolve a criança
O Dia Nacional do Livro Infantil é celebrado em 18 de abril, data escolhida em homenagem ao nascimento de Monteiro Lobato, um dos nomes mais consagrados da literatura infantil brasileira. Lobato nasceu em 18 de abril de 1882 e é considerado o pioneiro da literatura infantil no Brasil.
Segundo as estudiosas Nelly Novaes Coelho e Regina Zilberman, Monteiro Lobato foi o primeiro brasileiro a se preocupar em escrever literatura em uma linguagem que realmente interessasse às crianças. Antes dele, outros autores nacionais já haviam escrito obras para o público infantil, mas não pensavam nos interesses delas.
No início da década de 1920, Lobato publicou A Menina do Narizinho Arrebitado, que em 1934 reapareceu como Reinações de Narizinho. Escitor e psicanalista, Francisco Neto Pereira Pinto sugere que os pais comprem livros para seus filhos que atendam às necessidades da criança, e não apenas o desejo do adulto de educá-la.
Ele dá cinco razões para oferecer boa literatura às crianças. A primeira são os benefícios neuroendócrinos, já comprovados cientificamente. "A leitura de ficção influencia na produção de ocitocina e em dois outros hormônios - dopamina e serotonina - responsáveis pelo bem-estar, motivação e entusiasmo".
"Eles podem impulsionar a pessoa rumo à conquista de seus objetivos. Isso vale tanto para crianças como para adultos, e pouco importa se a pessoa mesma está lendo ou se a leitura é feita por outra pessoa e ela ouvindo. Os efeitos nos dois casos são benéficos. A leitura na família pode começar com a criança ainda na barriga da mãe".
A segunda razão é o desenvolvimento da empatia. O contato com textos literários tem efeito positivo no comportamento, favorecendo a capacidade de perceber os sentimentos, as emoções e as intencionalidades das outras pessoas, ou seja, favorece a empatia, as habilidades intrapessoais e interpessoais.
"Pesquisas indicam que o contato com a ficção, mesmo que somente durante a infância e juventude, tem efeitos durante toda a vida. Em um mundo em que cada vez mais o individualismo parece predominar, ofertar literatura às crianças é possibilitar, como já dizia o grande estudioso brasileiro Antonio Candido, o direito à humanização".
Francisco aponta como terceira razão as necessidades emocionais e o propósito de vida, porque a literatura infantil de qualidade atende às necessidades emocionais da criança. "Bruno Bettelheim, famoso psicanalista que escreveu o livro Os Contos de Fadas no Divã, diz que a literatura infantil, além de ajudar as crianças a entender os seus próprios conflitos, ajuda os pequenos na construção do próprio sentido da vida".
Outra razão é exercitar o cérebro. A leitura é um dos melhores exercícios para o cérebro, para a construção e manutenção das memórias. "Quando uma criança está lendo, ou ouvindo histórias, todo o cérebro é colocado para trabalhar em ritmo e intensidade como nenhuma outra atividade é capaz de fazer', diz o neurocientista Ivan Izquierdo.
Por analogia, é como se estivesse fazendo um treino pesado e intenso na academia. A leitura de literatura infantil, além de promover a saúde emocional, promove a saúde neurológica e cognitiva, no curto e no longo prazo.
A quinta razão é o desenvolvimento estético e comunicativo. É na literatura que a língua atinge as suas maiores potencialidades. Por isso, além da criança desenvolver o vocabulário, o letramento e as habilidades comunicativas, ela também vai desenvolver e apurar o sentimento estético, sua capacidade de sentir prazer ao apreciar as realizações artísticas.
"Isso parece banal, mas não é. No geral, a capacidade de fruir as artes é algo que tem sido negado às camadas mais pobres da população, reservando-se ao usufruto das elites privilegiadas. Ofertar a literatura infantil a qualquer criança, portanto, é um gesto político e emancipatório", diz Francisco.
"A literatura é mais do que um direito que não deveria ser negado a nenhuma criança, porque, além de ser um dos melhores instrumentos para o desenvolvimento das habilidades linguísticas, contribui para a construção de uma personalidade mais empática e para a saúde mental, neurológica, cognitiva e um propósito de vida".
Francisco Neto é psicanalista, professor universitário e escritor, autor dos livros infantis "O Gato Dom" e "Você vai ganhar um irmãozinho". Seu Instagram é @francisconetopereirapinto
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