Infiltrados impedem os crimes online

O marginal pensa que está seguro na internet e começa a atrair um menor. Mas do outro lado está um policial civil de São Paulo. Esta é a realidade da Secretaria da Segurança Pública, que implantou em São Paulo o primeiro Núcleo de Observação e Análise Digital (Noad) para combater crimes virtuais contra crianças e adolescentes.

A iniciativa tem o objetivo de impedir a expansão da violência nas redes sociais, como estupros virtuais e a comercialização de pornografia infantil. O núcleo fica na secretaria e conta com uma estrutura que envolve policiais civis infiltrados 24 horas por dia em comunidades e grupos da internet para detectar criminosos.

São denominados “observadores digitais”. Além deles, o Noad conta com policiais militares e peritos, explica o secretário Guilherme Derrite. “Viramos a chave quando analisamos o problema com uma lupa e percebemos que é, sim, caso de polícia. São criminosos que se infiltram na internet para cometer crimes graves".

"Precisamos estar ao lado dos pais e combater isso juntos”, destaca. Ele conta que o material coletado durante a investigação embasa um relatório de inteligência que é anexado ao inquérito policial e, posteriormente, submetido ao Poder Judiciário com eventuais pedidos de buscas, prisões ou internações.

Os agentes também agem na iminência de uma ação criminosa, acionando outros departamentos policiais para intervenção. Desde a criação, as equipes do Noad conseguiram impedir mais de 80 estupros virtuais, uma prática criminosa que se espalha pela rede mundial de computadores.

Os crimes são praticados por homens que se autodenominam “líderes” de comunidades em redes sociais e que se relacionam virtualmente de alguma forma com a vítima — na maioria dos casos crianças ou adolescentes. A relação envolve diferentes tipos de violência e abusos, transmitidos em “lives” para milhares de pessoas.

"A situação é mais grave do que parece," avalia a coordenadora do Noad, Lisandréa Salvariego. “É uma rede criminosa que busca notoriedade nas redes sociais perpetuando os abusos. Eles também lucram com a venda de pornografia infantil. Na maioria das vezes, se aproveitam da vulnerabilidade de crianças e adolescentes e da omissão dos responsáveis”.

A violência é praticada em grupos de redes sociais conhecidos como “arenas”, onde há a possibilidade de trocar mensagens, fotos, áudios e interações ao vivo. Alguns deles possuem cerca de 100 mil seguidores do mundo todo, segundo o Noad.

“Sabe quando você conhece pessoas boas de coração que fazem de tudo e mais um pouco para tentar ajudar? Então, nesse universo é totalmente o inverso. Algo que eu nunca tinha visto e nem imaginava que acontecia com tanta facilidade. A todo momento esses delinquentes buscam algo novo envolvendo violência”, conta o agente de telecomunicações policiais Alysson Sawasato, que também integra o Noad.

Do mesmo jeito que os agentes conseguem identificar as vítimas e tentam, de alguma forma, repelir a violência, também é possível descobrir quem é e como age a pessoa por trás da rede criminosa. A partir dos relatórios dos agentes de inteligência infiltrados a Polícia Civil compartilha as informações com demais órgãos.

A primeira operação fruto do núcleo foi deflagrada no final do ano passado para cumprir dez mandados de busca e duas prisões temporárias autorizadas pela Justiça. Além de São Paulo, a ação ocorreu em Pernambuco, Bahia, Minas Gerais e no Distrito Federal.

Entre os alvos, estava um adolescente do interior paulista apontado como um dos “donos” de um grupo investigado. Um outro envolvido foi apreendido em Pernambuco, com o pai, porque, segundo a Polícia Civil, o nome dele estava nas contas bancárias que recebiam o dinheiro proveniente da venda de pornografia infantil.

Os trabalhos de investigação prosseguem com a ampliação da equipe do núcleo, o primeiro do país. Para a coordenadora, o mais importante agora para ajudar a combater esse tipo de crime é conscientizar os pais sobre a necessidade de impor limites ao uso das redes sociais dos filhos, além de acompanhar reação “estranha”.

Ela ressaltou também a importância de os pais serem parceiros dos filhos, para que haja uma conversa na qual todos se sintam confortáveis em trocar informações, especialmente se for sobre casos como esses, que extrapolam o mundo virtual.

7:09 PM  |  


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sao pedro