Livro resgata fase áurea do teatro baiano

As décadas de 1990 e 2000 representam uma época de ouro para as artes cênicas na Bahia. Nesse período, o teatro baiano foi marcado por intensa e diversificada produção com grande receptividade de público, numa efervescência que possibilitou a revelação de talentos nacionais, a exemplo de Lázaro Ramos, Wagner Moura e Vladimir Brichta.

Um mapeamento farto de espetáculos que se destacaram nessa fase de valor inestimável para a memória cultural de Salvador está registrado no livro "Teatro na Bahia: 80 críticas", do jornalista, escritor e professor Marcos Uzel, publicado pela editora da UFBA (EDUFBA). O lançamento será no dia 5, às 19h, no casarão da Aliança Francesa.

A publicação reúne críticas de peças que se tornaram clássicos da cena local, como A bofetada, Ó paí, ó!, Oficina condensada, Merlin ou a terra deserta, Os cafajestes, Quem matou Maria Helena?, Cuida bem de mim, Noviças rebeldes, Cabaré da rrrrrraça, Divinas palavras, Lábios que beijei, 1,99, Bispo, Boca de Ouro e O sapato do meu tio.

Todas lançadas num período em que o teatro tornou-se reconhecido como a segunda expressão cultural mais popular da capital baiana, perdendo apenas para a axé music. “Alguns espetáculos chegavam a permanecer em cartaz com temporadas de quinta a domingo e com plateias lotadas".

"Foi a primeira vez que eu vivi de teatro de fato, porque tinha bilheteria, o público comparecia”, lembra o ator e diretor João Miguel, um dos destaques do cinema brasileiro nas últimas décadas, que assina o prefácio.

O livro documenta flagrantes preciosos da atuação de grandes artistas que já partiram, como Mário Gusmão, Haydil Linhares, Carlos Petrovich, Wilson Mello e Nilda Spencer, e de veteranos que continuam na cena fazendo história, dentre os quais a dama Yumara Rodrigues e o mestre Harildo Déda.

Nas páginas da publicação, o leitor também vai encontrar reflexões sobre trabalhos de companhias teatrais emergentes da época, destacando-se a presença fundamental do Bando de Teatro Olodum, o grupo negro mais popular da história das artes cênicas na Bahia e um dos mais importantes do Brasil.

“É um documento de pesquisa para futuras gerações de estudiosos ou para atender ao interesse e à curiosidade de pessoas que gostam de teatro”, assinala o autor Marcos Uzel, que foi testemunha desse capítulo especial da história das artes cênicas locais atuando como crítico teatral na imprensa baiana.

Com "Teatro na Bahia: 80 críticas", Uzel dá continuidade ao seu propósito de publicar registros de memória dessa cena, do qual fazem parte os livros "Nilda: a dama e o tempo" (biografia da atriz Nilda Spencer, de 2021), Poéticas de Marcio Meirelles (2020), Guerreiras do Cabaré (2012), A noite do teatro baiano (2010) e O Teatro do Bando (2003).

As críticas apresentadas no seu novo livro foram preservadas na íntegra ou adaptadas, a partir de textos de sua autoria publicados em jornais. Alguns desses textos ganharam um acréscimo de informações para dar mais embasamento, fluidez e valor de memória ao conteúdo que está sendo documentado. Há também críticas inéditas.

“Outras peças relevantes do período recortado, sobre as quais não escrevi, mas que gostaria de ter escrito, também foram revisitadas através do meu acervo particular, da memória viva que guardo dos trabalhos e de reflexões que na época tive a intuição de transformar em registros pessoais, digitar e arquivar no meu computador".

O livro conta com o apoio da Aliança Francesa Salvador-Bahia e da Luminosa Produções Artísticas, atual gestora do Teatro Molière da Aliança Francesa. Os exemplares estão à venda pelo WhatsApp da EDUFBA (71) 99732-6726, pelo email coedufba@ufba.br ou através do catálogo da EDUFBA nas lojas on-line Amazon e Estante Virtual.

“Eu vejo um livro desta natureza como uma ode à memória. O olhar distanciado sobre o processo criativo é precioso para a trajetória dos próprios artistas. Do ponto de vista da recepção, uma crítica diz muito profundamente sobre a comunicação que a obra do artista faz. Um conjunto de textos desta natureza também é História”, afirma Gideon Rosa, ator.

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sao pedro