Coronel conta os bastidores do dia 8

Em depoimento à CPMI do 8 de janeiro, o coronel Jorge Eduardo Naime, ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar (DOP) do Distrito Federal, disse que o DOP não foi adicionado ao grupo de inteligência criado para a Agência Brasileira de Inteligência avisar sobre o risco de invasão nos Prédios dos Três Poderes.

“Às 10h da manhã do dia 8, a Abin confirmou que iriam acontecer manifestações violentas em Brasília. Isso foi colocado no grupo de inteligência no WhatsApp, o Sispi, em que o DOP não estava. Estava nesse grupo o centro de inteligência da segurança pública. No momento em que não colocaram o DOP, eles nos cegaram.”

Segundo Naime, a então subsecretária de segurança, delegada Marília Alencar; o chefe da inteligência da PM, coronel Reginaldo; o chefe de inteligência do Comando Regional, tenente Júnior; o coronel Jorge Henrique Pinto, entre outros, estavam no grupo do Sisbin.

“A informação que estava rodando era que o acampamento estava desmobilizado, que só havia poucas barracas, que só tinham 500 pessoas, que continuava o desmonte do acampamento, que as estruturas estavam desmontadas, e que o acampamento estava arrefecendo, esse era o clima”, disse.

Mas no sábado (7) a Abin começou a passar, via grupo de WhatsApp, informações sobre a movimentação de ônibus e os discursos de incitação a invasão de prédios públicos dentro dos acampamentos. “O que me causa estranheza é que no dia 8, às 10 horas, a Abin informa claramente que tinha uma confirmação de invasão de prédios públicos".

"Se essa informação chegou ao nível de comandante e secretário geral, eles não tomaram a providência”, disse, lembrando que neste momento deveria ter sido acionado o Gabinete de Gestão de Crise. Naime conta que essas informações não foram compartilhadas com o núcleo de inteligência do DOP.

“No momento que não colocaram o DOP, eles cegaram o chefe do departamento de operações, que era o coronel Paulo José, e cegaram o subcomandante geral, porque a agência de inteligência da PM é subordinada ao Comandante geral, ele não se reporta ao subcomandante geral”, disse.

Na época dos atentados, o coronel Paulo José substituía Naime no comando da Polícia Militar do Distrito Federal. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) questionou se a abertura da esplanada veio do coronel Paulo José. “Eu não posso dizer, mas pelo próprio protocolo de ações integradas, a competência é do secretário de segurança".

Segundo Naime, a falha na inteligência impossibilitou a mobilização de efetivo da PM para a segurança dos prédios federais. “A PM falhou porque ela fez um planejamento subestimado, porque as informações que foram dadas sexta-feira eram diferentes das informações que tínhamos no domingo às 10 da manhã".

Naime explicou que a PM tem plano para conter manifestações e que o problema foi falta de informações passadas ao DOP. “O plano é preparado para conter de dez pessoas queimando pneu até manifestações maiores do que o 8 de janeiro. O aviso foi dado cinco horas antes, em que eles poderiam ter mudado a estratégia de segurança.”

Naime estava de folga em 8 de janeiro, quando os prédios públicos foram invadidos e depredados. Conforme disse em depoimento, ele estava com pré-diabete e, mesmo assim, foi até a Esplanada dos Ministérios para tentar conter os atos de vandalismo. A tropa da polícia estava de sobreaviso por ordem do coronel Klepter Rosa.

Eles deveriam estar no quartel, devido ao risco de invasão que rondava Brasília. Depois dos atos de depredação, Klepter foi promovido a comandante-geral da PM-DF por determinação do então interventor federal, Ricardo Cappelli. “O coronel Klepter ligou na minha folga e disse para ir para a Esplanada e prender todos que conseguisse”.

“Cheguei ao local por volta das 17h40, efetuei aproximadamente 400 prisões, fui atingido por um rojão e consegui desocupar os prédios dos Três Poderes antes do Cappelli chegar ao local.” Antes de chegar à Praça, Naime ligou para Cappelli a fim de se colocar à disposição. Contudo, ele não respondeu e o coronel enviou uma mensagem.

Durante a oitiva, a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), se mostrou um pouco nervosa, até mesmo, levantando a voz contra Naime. A parlamentar disse que ele estava tentando criar uma “cortina de fumaça”. O PM rebateu todas as informações da relatora, baseada em narrativas e fontes não confiáveis. Com Oeste e Diário do Poder

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sao pedro