Prejuízo escolar pode durar 15 anos

O fechamento das escolas durante a pandemia de covid-19 poderá ter impacto profundo e de longa duração – cerca de 15 anos – sobre a economia brasileira. A avaliação é da Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia, em seu Boletim MacroFiscal, com um box especial sobre os custos socioeconômicos da medida.

O impacto será sentido no Produto Interno Bruto, no aprendizado e produtividade do trabalho, e no aumento da desigualdade social, já que o acesso ao ensino remoto, oferecido em substituição às aulas presenciais, depende das faixas de renda da população.

A SPE considerou que os efeitos da atual crise podem se estender até o final de 2022, resultando em um hiato de três anos na educação de uma grande parcela da população que hoje tem entre 5 e 20 anos (idade escolar). “Um prejuízo de dimensões incalculáveis”.

“Há duas formas extremas de lidar com o problema. É possível imaginar também soluções intermediárias entre elas. A primeira seria simplesmente deixar o hiato educacional cobrar seu preço no estoque de capital humano brasileiro, de modo que jovens entrem no mercado de trabalho com a mesma idade que entrariam sem a pandemia".

"Porém, entram com uma quantidade menor de anos de educação formal”, diz o boletim. “Essa alternativa seria uma verdadeira catástrofe na acumulação de capital humano e na produtividade do trabalho de uma geração inteira”, avalia a SPE.

A segunda alternativa seria cobrir esse hiato com anos adicionais de estudo após o término da pandemia. “Mas o efeito visual de se postergar por três anos a entrada dos jovens no mercado de trabalho é dramático, já que haverá uma proporção menor de adultos em idade laboral e um encolhimento da população que gera riqueza".

De acordo com o boletim, esse efeito deve durar por aproximadamente 15 anos após o término da pandemia, até que toda essa parcela da população atingida com a paralisação das aulas entre no mercado de trabalho. “Portanto, escolas fechadas hoje causam um país mais pobre amanhã. E esse amanhã deve perdurar por quase duas décadas.”

Mas o impacto negativo da pandemia sobre o aprendizado não é homogêneo, já que há o ensino remoto como substituto do presencial, embora esteja longe de ser um substituto perfeito. “O impacto tende a ser tanto maior quanto mais baixa é a renda familiar".

Um computador conectado à internet e um ambiente adequado na residência para o ensino a distância são requisitos inatingíveis para milhões de famílias de baixa renda. Para a SPE, é possível que crianças com condições para acesso ao ensino a distância também tenham déficit de aprendizado. Mas o prejuízo foi muito maior para crianças pobres.

A secretaria explica que os efeitos da educação sobre o crescimento econômico são muito bem documentados e estima-se que cada ano adicional de educação pode aumentar o PIB em 0,58% no longo prazo. Outra estimativa é que 40% da diferença de renda entre o Brasil e os Estados Unidos são fruto do nosso atraso educacional.

“Para se ter uma ideia, enquanto em países desenvolvidos, como a Alemanha e os Estados Unidos, a população tem médias de anos de estudo de 13 ou 14 anos, no Brasil esse número é pouco maior do que 7. Essa diferença evidencia não só uma das razões para o tímido crescimento brasileiro, como também para a baixa qualidade de vida".

Para a SPE, o fechamento de escolas foi justificável diante da total incerteza no início da pandemia, mas evidencias recentes vêm demonstrando que a abertura pode não ser um fator de risco do coronavírus. “Nosso país optou pelo fechamento completo das escolas públicas no ano de 2020 e por um período muito mais extenso".

"A média foi de 40 semanas no Brasil, contra 22 semanas no resto do mundo. Essa política persiste, ressalvadas algumas exceções, em 2021. Nesse sentido, todos os números apresentados até aqui podem ser entendidos como a previsão mais otimista dentre as possibilidades”, ressalta a SPE. Com Abr.

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