MPF deve apurar demora de hospital

A família de Misna Nonato Alves, de 21 anos, solicitou ao Ministério Público da Bahia que apure a responsabilidade pela morte de seu filho, de apenas 9 meses, por demora no atendimento no Hospital Manoel Novaes. Parentes afirmam que esta demora foi determinante para o óbito.

O bebê tinha sido atendido no Hospital Arlete Magalhães em Pau Brasil, onde a família reside na reserva Caramuru Paraguassú. O médico receitou um remédio que a mãe não teve como comprar. Quando o bebê piorou, foi enviado de ambulância para a Maternidade Ester Gomes, onde chegou às 4 horas.

Apesar de ter assumido a emergência pediátrica sem ter condições para isso, a maternidade não atendeu e mandou o bebê para o Hospital Manoel Novaes. Ao chegar, a ambulância teve sua entrada negada na portaria. Ela já estava há 40 minutos do lado de fora quando chamou a atenção do advogado Davi Pedreira.

Ele estava indo para uma academia, por volta das 5 horas, observou a cena e procurou saber detalhes. Pedreira entrou e exigiu que o hospital atendesse a criança. Só assim a ambulância pode entrar e a criança ser atendida, porém faleceu logo em seguida.

"Se a criança fosse atendida antes, poderia ter sobrevivido. Para piorar ainda mais a situação, o hospital queria que a ambulância levasse a criança sem a Declaração de Óbito", afirma o advogado. "Essa morte vai para a conta do descaso da saúde pública de Itabuna e da Santa Casa de Itabuna".

Procurada pela imprensa, a Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, mantenedora do HMN, não explicou a sugestão para que o corpo fosse liberado sem atestado de óbito. E afirmou que a ambulância chegou às 5h15 (mas Pedreira chegou às 5h e ela já esperava há 40 minutos).

A Santa Casa observa que o bebê chegou em estado grave e sem regulação. Ela explica que o HMN atende só via regulação, podendo receber apenas pacientes encaminhados pela Central de Regulação ou pelo SAMU, "além dos casos que explicitem urgência, como convulsão, politrauma, sangramento aparente via demanda espontânea".

A Santa Casa alega que só recebeu uma ligação e email da Central de Regulação às 5h20, encaminhando o bebê e pedindo vaga na UTI Pediátrica. "Neste momento, se correlaciona o paciente que estava na porta ao pedido de regulação" (mostrando que a burocracia está acima dos cuidados com o paciente).

"A criança foi autorizada a entrar às 5h35”, diz. Segundo o hospital, "o paciente foi recebido com oxigênio inalatório inadequado, com acesso venoso obstruído, em gasping (respiração ofegante), sendo tentado reanimação imediata pela equipe, entubação traqueal e ventilação, massagem cardíaca, tentativas sem êxito, constatando óbito 5h58".

O que sobra desta triste história é que um bebê faleceu porque não seguiu o trâmite burocrático que nenhuma mãe é obrigada a conhecer e que dificulta o atendimento de urgência e emergência. A vida passa a depender da rapidez com que um burocrata se comunica com outro e este com o hospital.

10:07 PM  |  


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