Vale sabia do risco e da destruição

A mineradora Vale já sabia que um eventual rompimento de barragem em Brumadinho (MG) destruiria as áreas industriais da mina de Córrego do Feijão, incluindo o restaurante e a sede da unidade, onde estava parte dos mortos e desaparecidos.

A informação consta do plano de emergência da barragem, de 18 de abril de 2018, obtido pelo jornal Folha de S.Paulo junto a um dos órgãos oficiais encarregados de recebê-lo. A Vale se recusa a encaminhar o documento. A barragem rompeu na última sexta-feira, 25.

Segundo a própria Vale, foi tão rápido o rompimento que destruiu até as sirenes que deveriam alertar os empregados e moradores. Segundo o jornal, a Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Social de Minas Gerais só foi oficialmente avisada da situação cerca de uma hora depois do rompimento.

A demora ocorreu porque a equipe responsável pelos procedimentos de emergência do Plano de Ações Emergenciais ficava dentro da sede da mineradora. Há a suspeita de que esses funcionários foram os primeiros a ser atingidos pela onda de lama de rejeitos.

O escritório da equipe de geotecnia, responsável por dar partida às primeiras ações emergenciais, ficava no pé da estrutura da barragem. Até o momento, as autoridades contabilizavam 110 mortos e 238 desaparecidos. Muitos deles estavam no restaurante da mina, a cerca de um quilômetro da barragem.

Outros estavam na pousada Nova Estância, cuja inundação também estava prevista no plano.​ Para especialistas, devido à proximidade, os profissionais no local teriam pouca chance de escapar ainda que o alerta sonoro tivesse funcionado. O plano previa que a área industrial da mina seria atingida em 12 a 13 minutos.

Uma das rotas de fuga que a empresa apontou como seguras durante um treinamento que não chegou a ser feito com a população local também foi devastada. “Quem correu para onde a Vale mandou morreu, e quem não seguiu o treinamento está vivo”, diz Jhonatan Júnior, 22, que perdeu o irmão.

Ao menos dois funcionários elencados no plano como responsáveis por alertar em casos de emergência morreram: Maurício Lemes, do Cecom (Centro de Controle de Emergências e Comunicação), e Alano Teixeira, coordenador suplente do PAEBM.

O prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo (PV), afirmou que desconhecia o plano. “Me parece que eles estão montando esses planos todos agora. Não chegou ao conhecimento meu”. Portaria do governo federal estabelece que o PAEBM deve ser entregue à prefeitura e às defesas civis municipais e estaduais.

Precisa ainda ter capa vermelha com o nome da barragem em destaque, para facilitar acesso. Além disso, o documento deve estar “em local de fácil acesso no rompimento local”. O plano é bastante genérico, com poucas informações em suas 88 páginas sobre o que fazer em caso de emergência. Com Diário do Poder.

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