Jornalistas denunciam violência e milícia na Bahia
em artigo assinado por Fabio Costa Pinto, jornalista sócio efetivo da Associação Brasileira de Imprensa, filiado ao Sinjorba/FENAJ. Com o título de "Violência contra jornalistas na Bahia. Até quando?" ele lembra que a lei garante o livre exercício da profissão, "o que não vem ocorrendo".
A preocupação com a crescente escalada de violência contra jornalistas em todo o estado da Bahia é um sentimento compartilhado por todos os profissionais do setor, o que requer ações mais enérgicas por parte das autoridades governamentais e do Poder Judiciário, diz.
"Faz-se necessário, portanto, a apuração, investigação, justiça e proteção aos jornalistas atingidos por ameaças, agressões, perseguições, assédio moral, assassinatos e crescentes ataques milicianos durante o exercício da profissão em nosso estado".
"Tais crimes não atingem apenas a vida profissional, mas também pessoal e familiar dos jornalistas. Cria seqüelas físicas e emocionais graves". Fabio lembra que é papel do jornalista questionar, denunciar as mazelas da sociedade, sem ser punido por exercer seu ofício com ética.
Perseguição e intimidação
Um caso envolve intimidações, perseguições e ameaças de morte à jornalista investigativa, especialista em segurança pública e ciências políticas, Milmara Nogueira e sua família. Ela vem denunciando, desde 2018, o crescimento de quadrilhas do sudeste atuando na Bahia.
Também revela ações milicianas de grupos de extermínio no setor imobiliário, grilagem de terras, expulsão de moradores de aluguel e proprietários de suas residências. Nos últimos dois meses a jornalista sofreu duas fake news anunciando sua morte.
No dia 6 de junho, ocorreram mais ataques virtuais. Quem fazia buscas por ela encontrava matérias que em nada tinham a ver com a jornalista, nem foram escritas por ela, mas constavam vinculadas ao seu nome.
Entre elas "Os transtornos mentais enfrentados pelo soldado Wesley", morto pelo Bope no Farol da Barra em março e "Mulher presa por receber cocaína em casa através dos correios". Todas do mesmo site de onde se originou a fake news com sua morte.
Ameaças e agressões
O texto cobra a apuração de vários casos, como as perseguições e ameaças contra o repórter Bruno Wendel, do Correio, após publicação de reportagem envolvendo um policial militar suspeito de participação miliciana em extorsões e assassinatos no dia 16 de maio de 2021.
O soldado foi morto durante uma operação que mirava grupos de milícia de extermínio. Bruno recebeu quatro mensagens enviadas para seu celular, com insultos, o chamando de vagabundo. E ligação com ameaça clara: "O que começou com sangue não precisa terminar com sangue".
Outro caso é o do radialista e jornalista Davi Alves, da Rádio Alvorada FM, em Jeremoabo/BA. Ele foi agredido em setembro de 2020 quando fazia matéria sobre o uso de material da Prefeitura em obra particular.
Davi foi agredido física e verbalmente por funcionários e pelo secretário de Infraestrutura, João Batista Andrade. A gestão era do prefeito Derisvaldo dos Santos (PP).
Mortes sem punição
Não são apenas ameaças. O produtor da Record, TV Itapoan, José Bonfim Pitangueira, foi morto com 11 tiros a caminho do trabalho, na manha do dia 9 de abril. Até o momento os executores e mandantes não foram presos.
O ataque ocorreu na rua onde José morava, no bairro da Federação, em Salvador. Testemunhas relataram que três atiradores estavam dentro de um carro branco e fugiram logo após o crime, por volta das 8 horas.
O radialista Weverton Rabelo Fróes, conhecido como Toninho Locutor, de 32 anos, foi morto a tiros no dia 4 de abril, em frente à casa onde morava, em Planaltino. Segundo a Polícia Civil, um homem chegou ao local em uma motocicleta, disparou contra ele e fugiu.
Toninho Locutor tinha um quadro de humor em uma rádio na cidade de Planaltino e fazia criticas à gestão municipal do então prefeito Romi (PL). Até o momento, nem executores, nem mandantes foram presos.
Há o caso da morte do jornalista e radialista Geolino Lopes Xavier, de 44 anos, conhecido como Gel Lopes, morto a tiros no centro de Teixeira de Freitas no dia 27 de fevereiro de 2014, por homens não identificados. O crime continua sem apuração.
Notícia internacional
Um caso emblemático, que foi noticiado em vários países, foi o do jornalista Manoel Leal de Oliveira, em 14 de janeiro de 1998. Três pessoas foram acusadas pelo assassinato e duas foram condenadas, o ex-policial Mozart Brasil, ligado ao delegado Gilson Prata, de Salvador.
O outro foi Marcone Sarmento, ligado à secretária municipal Maria Alice Araújo e ao prefeito Fernando Gomes. Condenado em 2003 a 18 anos de prisão, Mozart continuou trabalhando como policial, graças a um Habeas Corpus concedido em uma véspera de Natal, até 2007.
Manoel Leal era editor e fundador do jornal A Região. Foi assassinado após detalhar no jornal irregularidades cometidas pelo prefeito Fernando Gomes e o delegado Gilson Prata, contratado por Gomes para perseguir seus opositores.
Existe um pedido de reabertura do inquérito para investigar os mandantes, que está há anos no TJ da Bahia. É preciso agilizar e priorizar este tipo de ação. Porque, como afirma o filho do jornalista, o também jornalista Marcel Leal, "a morte de um jornalista é a morte da liberdade de informação de um país". Nos anos 90, 10 jornalistas foram assassinados na Bahia em 10 anos.
Milicianos desde 2003
"Também alertamos e viemos denunciar sobre a urgência em combater o crescimento acelerado de grupos milicianos em território baiano, com ações de fiscalização das atuações das polícias e corregedorias das polícias".
Fabio conta que vem sendo denunciada, em documentos sigilosos, a existência de milicianos na Bahia desde 2003, com um modelo empresarial de grilagem de terras, expulsão de moradores, domínios de bairros inteiros, grupos de extorsão e extermínio nos bairros mais pobres.
Só este ano foram presos cerca de 20 integrantes das forças de segurança associados com crimes, fato constatado através de estatísticas, por órgãos diversos, em contato com jornalistas e pesquisadores da Segurança Pública no Estado.
No último dia 5 de maio, a Polícia Militar prendeu três ex-agentes penitenciários, suspeitos da tentativa de seqüestro a um empresário de Cruz das Almas. No dia 17 de abril, um ex-policial civil foi preso por envolvimento com uma quadrilha de traficantes da Boca do Rio, em Salvador.
Ainda em abril, dois policiais civis foram presos por associação com plantadores de maconha, na Chapada Diamantina. Em fevereiro, sete policiais militares e um civil foram presos por integrar uma milícia que praticava homicídio e intimidação coletiva, em vários municípios.
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