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28 de Julho de 2007

Adelindo Kfoury, historiador da Fundação Jupará

"Sobre Coronéis do Cacau, confundem-se fatos e lendas"
afirma o historiador e jornalista Adelindo Kfoury Silveira, um dos maiores estudiosos sobre a Região Cacaueira. Nasceu em Itabuna, na antiga Rua do Zinco, hoje rebatizada com seu nome numa justa homenagem da Câmara de Vereadores.
      Autor de vários livros, colunista semanal deste jornal, cumpre extensa agenda de compromissos dando palestras por todo o país, enfocando o folclore, cultura e personagens do Sul da Bahia, sobretudo a figura emblemática do Coronel do Cacau.
      Membro e Conselheiro da Fundação Jupará, ainda pertence ao Instituto Geográfico e Histórico de Ilhéus, Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Rotary International e Academia de Letras de Ilhéus.

A Região - É verdade que recebe constantes convites para palestras sobre a região?
       Têm sido muitos os convites para falar especialmente sobre Coronéis do Cacau. Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais são os estados de onde mais recebo solicitações.

AR - E por aqui? Faz tempo que não presenciamos alguma...
       Tem praticamente um ano que não recebo convite. E olha que sou bem remunerado pelas palestras lá fora, porque faço através de uma agência do Rio de Janeiro. Aqui em Itabuna, jamais cobrei um centavo...

AR - Nem no aniversário da cidade houve convite?
       Não. Parece que o pessoal se sente abastecido lendo minhas colunas aqui... (risos)

AR - Vamos aproveitar o gancho e entrar no assunto Coronéis do Cacau. O que poderia passar aos leitores?
       O coronelismo foi uma manifestação impressionante do poder privado no Brasil, parida (vamos dizer assim) naquela "democracia" dos tempos coloniais, mais explicitamente um fenômeno censitário do Império, chegando ao seu apogeu durante a República Velha, isso podendo ser justificado porque o regime federativo carecia de bases representativas.

AR - Foi sempre assim?
       Somente após a Revolução de 30, a tentativa de concentrar o poder nas mãos do Estado impôs-lhe uma condição de vida digamos, "não oficial", projetando-se travestido de outras peculiaridades, porém mantendo-se no seu status característico. Na verdade, naquela fase, os chefões políticos municipais passaram à prática do clientelismo, controlando e até falsificando resultados eleitorais (risos)...

AR - Em favor de quem, tais falcatruas?
       Chefes na Capital, com isso mantendo influências no quadro político-partidário. Mas sobre os Coronéis do Cacau se confundem fatos com lendas. Para melhor entendimento, sempre procuro dividi-los em dois grupos. Um, aquele coronel "documentado", ou como eles mesmos se autodenominavam "de papel passado", ou seja, portando diploma oficial assinado pelo Presidente da República. Somente a satisfação de vários requisitos especiais, como potencial financeiro, capacidade de mobilização de pessoas, prestigio social, etc. permitiam-lhes obter patentes da Guarda Nacional, corporação fundada em 1831 como unidade auxiliar das Forças Armadas.

AR - E o outro grupo?
       Ao outro grupo poderia agregar-se homens que possuíam fortuna pessoal muito grande, não importando a forma como fôra obtida, além do que deveria também comprovar expressivo poder político e indiscutível respeito comunal, naturalmente com as populações locais, tratando-os espontaneamente de forma apenas vocal por "Coronel". Infere-se claramente que esse segundo modelo não tinha "papel passado", melhor dizendo não pendurava no local de destaque da sua sala de visitas o respectivo "deploma". (risos)

AR - Nisso, até onde vai a influência dos livros de Jorge Amado?
       Vai toda. Quem lê as obras de Jorge, sobretudo aquelas do início de sua carreira, verifica que nossos coronéis são retratados como indivíduos libertinos, empreiteiros de tocaias, freqüentemente envolvidos com golpes do caxixe, exploração de trabalhadores etc. Fazendo um parêntesis, lembro que já o grapiúna Adonias Filho adota outro enfoque: são sagazes desbravadores, caçadores eméritos ou ambiciosos calculistas. Eu me permito dar uma opinião muito própria, depois de tantos anos pesquisando. Para mim, eles merecem respeito muito grande por parte de nós grapiúnas, pois foram, antes de tudo, semeadores de civilização. Vilas e depois cidades de hoje, devemo-las, em grande parte, àqueles homens rústicos de antigamente...

AR - Em seu livro "Itabuna, minha terra" você faz algumas referências...
       Bem lembrado. Na apresentação do livro, eu lembro que essa figura lendária tem sua origem ainda naquela fase épica, quando centenas de aventureiros lutavam com a mataria colossal nestas bandas, conquistando espaços a fogo, bala, facão, machado e sangue. Ali é que realmente se fixou na sua força telúrica o nato Coronel do Cacau, ainda sem o tal "papel passado"... homem que evoluiu das toscas palhoças de taipa no âmago das matas para os palacetes imponentes nas cidades que eles mesmos fundavam. A tarimba de varas, a viola de arame, a caneca de barro e os talhes de ferro, paulatinamente cederam lugar aos móveis Luiz XV, pianos de cauda importados da França, louças estrangeiras Limoges, Sevres e Companhia das Índias.

AR - Você chegou a conhecer pessoalmente algum coronel?
       Quando ainda criança, conheci vários. Alguns com "diploma" e outros apenas assim tratados por "consideração"... Lembro especialmente de dois: Henrique Alves e Firmino Alves, que embora tendo o mesmo sobrenome não eram parentes e por toda vida foram ferrenhos adversários políticos. Durante a mocidade e já adulto entrevistei Tertuliano Guedes de Pinho, Alfeu Carvalho, Gileno Amado, Astério Rebouças, Carlos Maron, Filadelfo Almeida, Oscar Marinho Falcão, entre outros.

AR - Qual a real participação dos coronéis nas cenas de violências que se relatam?
       Já disse que através dos anos tem sido comum falar do coronel do cacau como figura maquiavélica. Também uma figura, creio que infelizmente criada por Jorge Amado, é aquela de acender charutos com notas de 500 mil réis dentro dos bordéis de Ilhéus e Itabuna. Isso infelizmente corre o mundo. Claro que esta região nos seus primórdios, exigia coragem daqueles que aportavam. Precisava ser macho e valente. Certo que ocorreram violências, mas é preciso que se tenha uma compreensão didática das causas.

AR - Didática como?
       Isso foi ditado por circunstâncias momentâneas, por questões de ajustamento de tantas personalidades díspares que estavam se juntando para uma vida em comum. Homens rústicos, muitos até analfabetos, foram se identificando com a terra. Será de absoluta justiça reconhecer que se esforçaram para superar as suas próprias deficiências intelectuais e até morais trazidas de outras terras. Sinceramente falando, não creio que nenhum Coronel tivesse coragem de tocar fogo em seu próprio dinheiro. Presentes caros como jóias e roupas, isto sim, eles esbanjavam com aquelas moças, sobretudo as polacas que "faziam de um tudo" (risos...). Também gratificavam regiamente suas companhias nas inesquecíveis noitadas em cabarés, regadas a finos vinhos franceses.

AR - A Fundação Jupará está sendo convidada para gerir o Museu Henrique Alves. Sobre essa figura de nossa história, poderia detalhar alguma coisa?
       Foi realmente um tipo marcante. Sua vida em relação à Itabuna deve ser dividida em duas partes. A primeira é quando nasceu, na Colônia de Cachoeira, fruto da aventura de um padre com uma escrava alforriada, coisa para mim absolutamente normal e sem nenhum demérito para ele. Criado pelo Coronel João Berbert lá em Ilhéus, começou a trabalhar muito jovem, no balcão de uma quitanda que armou na beira da estrada. Após a morte de sua mãe, herdou a Fazenda Sempre Viva. A partir daí, sendo arguto e trabalhador, espírito destemido, paulatinamente transformou-se num dos mais poderosos donos de fazendas da região. Chegou a ter um efetivo nunca inferior a 250 empregados e "agregados". Residindo em Ilhéus, aonde chegou até a presidir o Conselho Municipal, nunca demonstrou nenhum interesse pela política de Itabuna, apesar de sua fazenda Sempre Viva estar situada a menos de uma légua de Tabocas, hoje nossa Itabuna.

AR - Qual era a corrente política dele?
       Seguia Simões Filho, João e Otávio Mangabeira em Salvador; aqui na região era liderado pelo Coronel Domingos Adami. Um detalhe histórico interessante é que o primeiro requerimento pedindo a emancipação de Tabocas, quando ele era Presidente do Conselho de Ilhéus, foi rejeitado por unanimidade...

AR - A partir de quando começou sua política em Itabuna?
       Na segunda fase, a partir de 1905, quando veio residir na famosa Casa Verde, ali na rua Miguel Calmon, assumindo a chefia dos Adamistas locais. Homem de fala mansa, tinha modos finos, verdadeiro cavalheiro. Amigo solidário, porém inimigo perigoso, tinha inusitada capacidade de ironizar coisas e pessoas –mal comparando, assim como um ACM daquela época. Seu maior sonho era administrar Itabuna. Somente em 1926, após uma eleição cuja lisura foi muito contestada pelos adversários, elegeu-se Intendente, governando até 1928. Deixou enorme gama de realizações, destacando-se o prédio da cadeia pública (hoje a FICC); a Praça Adami, hoje com uma das partes levando o nome do saudoso jornalista Manuel Leal; o calçamento da Rua Seabra (hoje fim da Av. Cinqüentenário).

AR - Alguns historiadores o consideram o braço armado dos Adamistas...
       Vocês acham que alguém manteria um contingente com 250 "agregados", só para colher e secar cacau? Eu não quero afirmar nem que sim, nem que não, muito pelo contrário (risos).

AR - Algum último detalhe sobre os coronéis?
       Esse contexto do mandonismo rural merece ser estudado partindo-se de uma remissão histórica. O coronelismo baiano possui espectro singularíssimo. Ele, por exemplo, é diferente dos coronéis do Recôncavo, perdidos num baronato decadente. Quanto aos coronéis do Nordeste do estado, sabemos que o poder, durante o Império, esteve praticamente na mesma família, apenas dissentida em alguns de seus membros. Outro aspecto interessante é o ocaso do coronelismo, fator político resultante principalmente da modernização institucional da sociedade brasileira.

 

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