entrevista
29.Novembro.2014



Roberto José, presidente da FICC

“A Felita nasce na terra do livro e de Jorge Amado”
roberto jose afirma o presidente da Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (Ficc), Roberto José. Com esse evento, ele acredita que Itabuna seja elevada ao cenário nacional da cultura, da literatura. A Feira do Livro de Itabuna será realizada de 4 a 7 de dezembro.
      Durante uma hora Roberto conversou com o jornalista Marcel Leal no programa Mesa Pra 2 (quartas, 15h), da rádio Morena FM 98. Falaram de cultura, livros, da feira, de projetos futuros e de um antigo problema, a falta de incentivo aos artistas. Confira.

ML - Qual é a novidade dessa feira?
       RJ - Teremos a participação de escritores renomados para falar sobre parte de nossa cultura, como o centenário de Adonias Filho. Segundo os especialistas, Adonias tem uma qualidade literária igual ou maior que Jorge Amado. A feira vem para a terra onde nasceu Jorge Amado, vizinho de Adonias, que é de Itajuípe, mas pertence à nação grapiuna.
      Abrimos os festejos do centenário dele, que é um dos eixos do evento, ao lado dos 50 anos do golpe militar. A gente traz na abertura da feira o fantástico filósofo e professor da USP, Leonardo Boff, que vai falar do papel da igreja.

Como você conseguiu trazer Leonardo a Itabuna, já que ele não vai a todo lugar?
       Ele não vai mesmo, tanto que tivemos que responder um questionário enorme para que ele analisasse. Ele não vai a feiras que têm conotação capitalista, por exemplo. A Felita não tem essa conotação. Nosso propósito é estimular o livro e a leitura.

Hoje temos muitos autores e escritores novos, como Daniel Thame e Juliana Soledade...
       Itabuna tem esse perfil por causa das universidades e faculdades, isso atrai um público. É uma característica sociocultural nossa e Itabuna e Ilhéus cresceram, passaram a ofertar serviços para as cidades circunvizinhas. Por isso temos tantos escritores.

Leonardo Boff abre a feira literária?
       Sim, ele vai falar sobre o papel da igreja no contexto da repressão militar e temos uma diversificação grande. A feira é gratuita e será aberta no dia 4. Teremos uma mesa, a Palavra por Palavra, às 18h45, com a vida e obra de Adonias Filho em debate com Tica Simões e Cyro de Matos.
      Às 20 horas a palestra de Leoanrdo Boff, que é pesquisador, foi padre e excomungado por causa de um livro que ele escreveu. Ele tem muito conhecimento de causa e temos previsão de caravanas de outras cidades para a abertura.

Quem são outros escritores?
       Teremos, além de Cyro e Tica, Jorge Araujo e Ondjaki, um angolano que ganhou premio internacional no ano passado. Teremos Capinan e as Musas Itinerantes, as poetisas Brisa Aziz, Marcia Mascarenhas e Milene Menezes que estarão fazendo intervenções durante a feira.
      Teremos um espaço destinado a lançamento de livros, incluindo o de uma jovem de São Paulo, de 16 anos, que já tem quatro obras. Aqui temos também um jovem da AFI que estará lançado seu livro.

E quanto à programação musical?
       Teremos apresentação de bandas como Manzuá, Dendê Jazz, Distintivo Blues e isso vai ser interessante, porque haverá interação com a poesia. Palavra por Palavra é o espaço para debate. Às 20 horas do dia 5 teremos palestras sobre os “50 anos do Golpe Militar e a Literatura Brasileira”, com Capinan e Jorge Araújo mediado por Felipe Murilo.
      No dia 6 literaturas divergentes, negra e feminina no Brasil. Quem participa dessa mesa é Rita Santana e Daniela Galdino, intermediada por Nivea Maria Vasconcelos. Nesse dia teremos a banda Os Aneros.
      No dia 7 teremos literatura baiana hoje, com Aleison Fonseca e Henrique Wagner, e no final o Poeta em Trânsito, um momento de musica e poesia com Daniela Galdino e a Banda Manzuá. Durante o dia teremos ainda oficinas e no espaço criança haverá atividades diárias. Teremos estandes de livros, café gourmet, restaurantes.

Haverá uma mesa redonda?
       Sim, teremos nomes como Marcel Leal, Daniel Thame e vamos trazer a filha de Jorge Amado, Paloma Amado, que terá uma mesa com a comida que Jorge Amado adorava, o que é uma coisa bem regional e baiana.
      Teremos um estande só para isso. Esse é um momento histórico em Itabuna. A forma como a feira foi pensada não deixa nada a dever a outros grandes eventos. E nossa intenção é a inclusão, o incentivo à leitura. O próprio Leonardo Boff vem por causa disso também.
      Que ela seja uma feira do cidadão itabunense, tem tudo para crescer futuramente. Temos importantes parceiros como o Jornal A Região, Radio Morena e a TV Cabrália. E já estamos pensando, grande, na feira do próximo ano.

O orçamento da Ficc aumentou?
       Aumentou sim, saímos de 0,25% para mais de 1% e a gente vai conseguir fazer muita coisa boa. Manter o que está sendo feito e ampliar as ações. A gente está trabalhando a cultura como instrumento social e a feira vem para essa mudança.
      A gente não pensa na feira para vender livros, apenas. O projeto tem uma base filosófica para atingir o grande objetivo a médio e grande prazos.

Sempre tivemos tudo para ser destaque mundial em cultura e literatura, mas faltou apoio de empresas e do poder público.
       Em razão dessa falta de apoio os artistas, produtores em geral, ficam desestimulados e partem para outras regiões, por isso temos muitos bons artistas lá fora. Aqui não deu certo. Não temos nem um teatro aqui.

Mas a Ficc está com uma sala de filmes...
       Sim, é o Cine Clube, toda terça-feira. Hoje temos um público de 20 a 40 pessoas e começamos com apenas três. A intenção do Cine Clube é a formação de plateia. Os filmes exibidos trazem uma lição literária, inclusive com pipoca grátis. Na próxima semana teremos o filme Fernão Campelo Gaivota.

Pela programação, podemos deduzir que a feira vai ter um espaço para um pouco de tudo?
       É. Teremos espaço para um restaurante parceiro, o café gourmet da livraria Nobel, na área verde da Ação Fraternal, teremos o espaço para as crianças em um lugar seguro. Contaremos com a participação de secretarias como a de Trânsito e a Guarda Municipal.

Você acredita que é possível usar o espaço da AFI para outros eventos?
       Sim, estamos em conversa com a gestão da Ação Fraternal, à frente Irmã Margarida, para fazer uma parceria e entregar aquele espaço à comunidade. Itabuna é uma cidade multicultural e o Centro de Cultura é pequeno para tudo. Teremos ainda o CEU - Centro de Esportes Unificados.
      Mas fizemos a primeira licitação e só se apresentou uma empresa, com preço caro. Fizemos um segundo pregão e ficou deserto. Nesse terceiro já temos a garantia de empresas que participarão. Já acertamos com o gestor local, que são pessoas da comunidade, para a inauguração no dia 7 de janeiro.
      O CEU tem um amplo espaço de lazer, um centro de referencia social, pista de cooper, de skate e podemos trabalhar como clube de cinema.

A Ficc ainda mantém as oficinas de arte?
       Sim, temos hoje a Casa das Artes com cursos de musica, literatura, artes marciais, tudo de graça. Temos a do centro, com cerca de 2 mil pessoas, de Ubaitaba e Ilhéus.
      Estaremos abrindo a Casa das Artes no bairro Sarinha, cujo espaço foi doado pelo Governo do Estado. A perspectiva do prefeito Vane é que tenhamos outras casas nos bairros Ferradas e Califórnia.

E como está o programa Viv-A-rte?
       Está indo muito bem, todos os dias os grupos pedagógicos se reúnem e até o dia 1º assinaremos os contratos com os educadores sociais. Esses educadores trabalham as modalidades de arte e cultura, exercendo influência positiva para o protagonismo juvenil.

E como está o Espaço Zélia Lessa, houve algum problema entre os gestores e a Ficc?
       Está tranquilo. Quando assumimos em 2013 estavam Eva Lima e Ari Rodrigues, mas o espaço estava deteriorado. Fizemos uma reforma completa, como um teatro de bolso para 150 pessoas.
      Quando fomos fazer um termo de cooperação técnica, descobrimos que a Acate não tem CNPJ. Houve a partir dai uma inquietação e, como é um espaço de todos, outros pediram para se instalar e a Acate não gostou. Paciência. A pauta hoje é feita entre os grupos e a Ficc.

Olha a ironia, o Espaço Zélia Lessa era uma cadeia pública e tem um teatro. A Ficc foi uma cadeia e é um espaço para a cultura...
       É, eram espaços da morte e se tornaram espaços de renascimento. No inicio do próximo ano faremos a restauração dos cárceres no prédio da Ficc para visitação. Fizemos uma reforma do telhado a ideia é fazer um tanque subterrâneo para água. A sustentabilidade é muito importante.

Para concluir nosso bate papo, gostaria que você reforçasse a data e horário da Felita.
       A Felita nasce na terra do livro e onde nasceu Jorge Amado. Ela acontece de 4 a 7, com abertura às 18 horas, na área externa da AFI, com entrada gratuita. Teremos boa música, poesia, palestras, comida e muita diversão. Será uma festa para as famílias e para pessoas que gostam de ler.


 
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