entrevista
14.Março.2015



Agenor Gasparetto, sociologo e editor

“É fácil publicar um livro, difícil é vendê-lo”
agenor afirma o sociólogo Agenor Gasparetto, dono da Sócio Estatística e da editora Via Litterarum. Ele esteve no programa Mesa Pra 2, da rádio Morena FM (quartas, 15h) e conversou com o jornalista Marcel Leal sobre vários assuntos das duas áreas.
     Davidson - O P Agenor analisou o momento atual na política, com manifestações de rua e a diferença para as do ano passado. Falou do mercado de livros, dos autores nacionais, de como ficou fácil editar um livro porém mais difícil vendê-lo. Confira.

A Região - Vamos começar com a literatura. Hoje é possível fazer uma tiragem com 50 livros. Como está aceitação do mercado?
       Gasparetto – Essa impressão em pequena tiragem facilita a editora. É um grande achado e uma mão na roda para o autor. Hoje todos podemos ser autores. O problema é outro. Alguém que esteja disposto a pagar por um livro. Temos muitos autores, muitos livros e poucos compradores.

O custo de produção é baixo?
       O custo hoje com a impressão digital é baixo. É possível imprimir um livro com 100 ou 200 páginas, 100 ou 50 exemplares, a R$ 15. Ele podia ser menor até, porque na primeira tiragem, imprimindo 50 ou um milhão, tem que se fazer capa, revisão, diagramação, código de barra... são todos custos da primeira tiragem que desaparecem na segunda.

Desde que você começou neste sistema, quantos autores a VL já publicou?
       Neste ano todos os nossos autores fizeram edições com cinco ou seis livros, com 50 ou 100. Um deles, por coincidência um livro que se chama Sete Mulheres, de uma psicóloga de Salvador, pediu 50 e depois mandou imprimir mil. A regra é fazer 50 ou 100 e quando o mercado demanda mais, se imprime.

Você acha que essa dificuldade vem da falta de vontade de ler ou da mania de só ler livros gratuitos?
       O livro hoje tem fortes concorrentes: a televisão e a internet, que fazem com que cada vez mais as pessoas se sintam atraídas. O livro se torna menos fascinante do que o Facebook e até mesmo a TV. É mais cômodo você sentar em frente à TV do que pegar um livro e ler. A comodidade faz com que o livro se torne menos interessante.

Tem uma exceção, os livros que originaram filmes. No Brasil o Harry Poter, por exemplo, vende muito pra meninada porque ela já viu o filme...
       Essas são exceções. O 50 Tons de Cinzas vendeu uma montanha de livros. É como o futebol. Uns ganham mais, outros menos. Todo mundo só vê o topo.

Isso não é consequência de uma criança que nasceu numa família que não lê?
       Essa é a grande diferença, você criar cultura que seja propicia à leitura. Num ambiente onde você tem estimulo à leitura, há mais chance de essa criança se tornar um adulto que lê. Onde o livro nunca fez parte do cotidiano, ele só vai ler numa sala de aula, quando fizer prova.

Às vezes pode descobrir um livro na escola e acabar gostando, não?
       De repente a pessoa começa a ler por obrigação, pega gosto e vai embora. Por isso que digo é preciso que as pessoas estimulem a leitura. As famílias não vão comprar um livro a menos que a escola peça. É importante ler porque todo o conhecimento da humanidade ainda está em livros.

Você acha que existe uma tendência na direção do livro digital?
       Acho que vai crescer. Enquanto o livro impresso vai ser um produto de menor tiragem e mais escasso, acho que vai migrar para o digital. De vez em quando, numa reforma em casa, são caixas e mais caixas de livros, enquanto o digital ocupa menos espaço e diminui custos. Se todas as crianças tivessem acesso à internet boa, diminuiria custos com os livros digitais.

Tem surgido muitos escritores na região?
       Sim, temos muitos, em todas as áreas. Uma que cresce muito é a de quem está fazendo mestrado ou doutorado e, ao invés de guardar, passa a disponibilizar a tese para todos num livro. Essa tem sido uma tendência. Um professor que tem conteúdo em sala de aula converte isso num livro, faz palestra e vende 100 livros.

Hoje é difícil encontrar uma livraria em Itabuna. A percentagem que elas cobram dificulta?
       Veja a Cultura em salvador ou a Saraiva. Ela não quer seu livro físico. Ela quer a capa e a ficha técnica. Coloca no site e, se alguém comprar, fica com metade e você é quem paga o frete e envia para o cliente. Se for R$ 40, R$ 20 é da livraria. Lembro que quando decidi criar uma editora, Hélio Pólvora me disse para não colocar meu dinheiro e me disse uma frase que me impactou muito: “a livraria é o túmulo do livro. Procure outros lugares para vender”.

O que é preciso fazer para imprimir um livro com pequena tiragem pela Via Litterarum?
       Como auto edição, a pessoa submete o texto, é lido e, se for aprovado, vai passar por uma revisão, diagramação, capa. Ele vai saber online exatamente como vai receber o livro, para aprovar ou não, e com 20 dias recebe o livro.

Existe uma maneira de facilitar a venda de um livro?
       O autor é um bom vendedor, sobretudo quando se faz palestra. O tema dessa palestra para um auditório de 50 ou 100 pessoas baseado no livro faz vender muitos livros no final. O autor que espera que a prateleira de uma livraria funcione vai ficar desapontado.

Mudando de prosa, do ponto de vista sociológico, como é que uma presidente que acabou de ser reeleita parece que já está no final de mandato?
       É muito difícil avaliar. Estamos num tempo em que o desemprego, que é um grande drama, está bem, 5%. A inflação também em torno de 7% ao ano não está fora de controle. Quando se olha pelos indicadores macro, não era para estar assim. O problema é estrutural, com a corrupção, o que passa a ideia de que no país só tem roubo. E não é bem assim. Eu não sei qual é a gota que entorna o copo, mas a corrupção é um elemento.

Mas essa baixa popularidade não surpreende?
       Tivemos vários fatores e não é novidade ter baixa popularidade. Surpreende porque foi logo após as eleições. A disputa foi muito acirrada, apenas três milhões de votos. Temos um quadro em que a insatisfação é muito grande e o país vai ter que conviver com isso.

É um quadro que pode se reverter?
       Eu já vi em pesquisas nas prefeituras aparentemente ruins que reverteram, mas em geral não. Normalmente vira em ano eleitoral. O prefeito tem suas estratégias para fazer com que se reverta. Mas uma vez que você atinge uma avaliação tão ruim, é muito difícil recuperar.

Tivemos uma manifestação em julho do ano passado e mais recente a dos caminhoneiros. E agora a do dia 15. Existem diferenças entre elas?
       No ano passado quem fez parte da manifestação foi a classe média. Eu diria que ela teve como base um fundo econômico. O custo nosso, como pais, aumentou muito. Antes um telefone na casa era para toda a família, hoje cada pessoa tem um. O custo aumentou, mas a receita não. Passagens aumentaram e foi a gota d'água. Aí a pessoa vê os gastos em estádios e pensa “eu estou me lascando, não consigo pagar internet e tem gente nadando em dinheiro fácil às minhas custas?”

Você acredita que esta manifestação que acontece domingo será igual a do ano passado?
       Não. Eu vejo mais um interesse de natureza política, com o propósito de desestabilizar a presidente. Toda leitura é uma leitura particular. Eu estou vendo de uma perspectiva. Quanto mais desgaste, melhor para a oposição, pior para a situação.

Continua sendo a classe media?
       Eu diria que sim. É o pessoal que está melhor posicionado na sociedade e é o que está se mobilizando. Na eleição de Dilma, o Nordeste votou nela por favores sociais, como o Bolsa Família, enquanto Minas Gerais, Rio de Janeiro e o sul votaram contra. Há esse sentimento.

Lula, ex-presidente, diz que vai mandar o exército do MST para a rua. Esse tipo de discurso não alimenta as manifestações?
       Todo discurso radical não favorece ao entendimento, ao diálogo. Acaba por colocar mais lenha na fogueira. O tempo é de pacificar e não radicalizar. Quem tem feito discurso de pacificação é Jacques Wagner. E nesse momento é a voz que se precisa. Se houve uma escolha equivocada você tem condição de corrigir esse erro em 4 anos.

Você acha que quem saiu de sua zona de conforto para protestar vai continuar mais ativo?
       Seguramente sim. Eu acho que é um ganho, um modus operandis novo que vai passar a funcionar. Todo movimento gera novas lideranças, pessoas vão se afirmar como vozes novas. O mundo todo hoje passa por mudanças. Veja a Espanha, qual a força política forte hoje, que não é da esquerda nem da direita e não é um partido tradicional. É a junção de pessoas insatisfeitas que resolveram se afirmar, é um movimento que vem da sociedade.

Esse desgaste dos políticos é ruim?
       É um sinal muito ruim porque toda decisão passa pela política. A política é a estrutura mais nervosa e sensível da sociedade. E teria que ser mais avaliada. O simples fato de você ocupar um cargo público já te deixa visto como ladrão. O fato de condenar a priori é ruim porque é uma condenação independente do que é fato.

Você ver algum perigo de desestruturação da sociedade se isso durar até o final do ano?
       O risco sempre existe. E se se consumar será muito ruim para o futuro do país e para a sociedade. Temos que ser capazes de fazer a transição de forma democrática. Qualquer outro atalho é ruim como procedente e como futuro também.


 
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