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2.Dezembro.2020

Lembrando Wilde Oliveira Lima, um exemplo de vida


Nasceu em 15 de novembro de 1923, em Vitória da Conquista, neste Estado da Bahia, filho de Nélson Álvares de Lima e D. Zelina Oliveira Lima. Em razão do seu genitor exercer a função de Coletor estadual de impostos, a família migrou para Água Preta (atual Uruçuca, na região cacaueira baiana), onde cursou o primário no Colégio Carneiro Ribeiro, e secundário no Colégio Marista, nesta Capital.

Bacharelou-se em Direito na nossa mais tradicional Faculdade, em 1948. Demonstrando nos tempos dos bancos acadêmicos seu pendor para a vida pública, foi atuante membro do Diretório Acadêmico Ruy Barbosa, já se destacando como líder estudantil, desde então, primoroso orador.

Recém formado, exerceu a função de assessor do inesquecível professor Anísio Teixeira, então Secretário de Estado de Educação e Cultura. Logo, em 1949, assumiu a função de Promotor de Justiça interino em Condeúba, sendo promovido a Promotor de Justiça, atuando em 1951 na Comarca de Itapicuru, promovido para Itabuna, em 1952.

Em terras grapiúnas, lecionou literatura universal, história, português e geografia, respectivamente, na Ação Fraternal e Colégio Divina Providência, tradicionais escolas locais. Foi membro da Campanha Nacional dos Educandários Gratuitos, fundador e consultor jurídico da Companhia Telefônica Sul Baiano, presidente do Lions Clube local, fundador da Academia de Letras de Ilhéus, da Faculdade Católica de Direito de Ilhéus (atual Faculdade de Direito da UESC-Universidade de Santa Cruz, na estrada Ilhéus-Itabuna), onde foi Professor.

Militou na imprensa escrita regional, colaborador assíduo do Diário da Tarde de Ilhéus, e Intransigente de Itabuna. Nesta Capital, exerceu a docência na Faculdade de Direito da Universidade Católica do Salvador, cadeira de Direito Romano. Entre vários outros títulos, foi consultor jurídico da Associação dos Prefeitos Municipais da Bahia, Professor de Ciências Políticas na Academia da briosa Polícia Militar da Bahia.

Licenciando-se do cargo de Promotor Público, foi eleito Deputado estadual, com expressiva votação, pelo PRP-Partido da Representação Popular (1959-1963, reeleito, mandato de 1963-1967.) Na Assembléia Legislativa da Bahia, ocupou a liderança do PRP, de 1960 a 1963, Vice-líder e líder do do Governo em 1963. Vice-Presidente da Mesa Diretora da ALBA (1961-1962), titular das Comissões de Constituição e Justiça (1959, 1963 a 1965).

Recebeu, ao longo de sua vitoriosa e extensa vida pública, diversas condecorações, tais como títulos de Cidadania de Itabuna, Sapeaçú, Santo Antônio de Jesus, onde seu honrado nome denomina o Fórum local. Em Itabuna, foi criada pelo Legislativo Municipal, a Medalha Wilde Lima; grande Oficial do Mérito da Bahia (1987), também recebeu a Medalha Marechal Argolo, Visconde de Itaparica. É nome do Salão do Júri do Fórum Ruy Barbosa, da Comarca de Itabuna. Enfim, intimorato democrata, marcou época como jurista, político da melhor cepa.

Poeta bissexto, algumas antologias literárias registram seu belíssimo soneto, A Lágrima. Mas, a sua veia artística se manifestava em lindas aquarelas, inclusive expostas no saguão da nossa Faculdade de Direito, na semana do 1º Congresso Estudantil Nacional de Direito Econômico, em 1975, época em que os anos de chumbo da ditadura militar nos impunha, a nós então estudantes, recém saídos da adolescência, as agruras de um regime que tolhia as liberdades, restando aos juristas de então, expressar de forma mais significativa seus pendores artísticos, e, a pintura, naturalmente, era das poucas manifestações a passar ao largo da nefasta censura...

Promovido a Promotor de Justiça da Capital, foi Procurador Geral de Justiça, em 1975, ascendendo à Desembargadoria no quinto constitucional reservado ao Ministério Público, em 1978, chegando a ocupar a Corregedoria Geral de Justiça, a Vice-Presidência do nosso Tribunal de Justiça.

Após amealhar a riqueza de uma vida austera, plena de profícuas realizações, faleceu, nesta Capital, em 8 de julho de 1987, deixando uma imensa lacuna na história da vida pública da Bahia. Sua filha, Isabel Maria Sampaio de Oliveira Lima, Juíza de Direito desta Capital, prematuramente aposentada, segue as suas pegadas de luz.

Enfermeira pela Universidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, é Doutora em Saúde Pública pela UFBA, pós doutora por universidades estrangeiras, Bacharela em Direito(UFBA), integra o quadro de Professores Doutores dos cursos de Doutorado em ciências sociais aplicadas da UCSAL-Universidade Católica do Salvador.

Mas, comprovando a rara sensibilidade de WILDE LIMA, retroajo no tempo para contar episódio ocorrido em Itapé (a terra do pranteado Horácio Tolentino Sodré, que ali foi prefeito por duas oportunidades, cujo nome está imortalizado na Barragem do Rio Colônia. [Cf. “Por Itapé, Tudo!”, ed. Via Litterarum, Salvador, 2011, da lavra de seu filho, o conceituado Advogado Carlos Eduardo Sodré, registro en passant)

Pois bem, escrevia que, visitando a Coletoria estadual de Itapé, em 1958, WILDE LIMA, após almoçar na residência do Coletor estadual local, pôs-se em pé para as despedidas e, dirigindo-se ao filho do Exator fiscal, disse: -Ponha a mão no bolso do tio; e o garoto, já sabendo do que se tratava, pôs rapidamente a mão no bolso do paletó do “tio” e dali retirou cédulas de cruzeiros, da menor a mais valiosa, sabendo tratar-se de sua mesada...

O garoto Guga jamais esqueceu desses momentos que se repetiram algumas vezes. Isso marcou sua infância na sua tenra idade de seis, sete anos... Agora, prestes a completar 68 anos, resta-me concluir estas linhas toscas e em desalinho, enxugando as lágrimas dos olhos...O menino, era, sou eu...

# João Augusto A. de Oliveira Pinto, Mestre em Direito pela UFBA, Membro da Academia de Letras Jurídicas da Bahia e da ABI - Associação Bahiana de Imprensa.

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