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7.Janeiro.2022

A língua catalã e o arquiteto Antoni Gaudí


Os milhares de turistas que anualmente visitam o templo da Sagrada Família em Barcelona desconhecem que Antoni Gaudí, o seu arquiteto, foi detido por falar catalão. Em 11 de setembro de 1924, ele quis assistir a uma missa em memória dos catalães caídos em 1714 defendendo Barcelona contra as tropas de Filipe V, antepassado do atual rei.

A polícia bloqueou a entrada e ameaçou Gaudí. Se insistisse em falar catalão, o prenderiam. Gaudí continuou a falar em catalão e foi passar uma noite no calabouço. A história de Gaudí é um exemplo do braço de ferro pela língua entre a Espanha e o povo catalão há 300 anos.

Depois de derrotar os catalães, Filipe V substituiu as instituições catalãs por instituições castelhanas. Os catalães ficaram apenas com a sua língua para sobreviver como povo. Durante os séculos XVIII e XIX, reis, ditadores e presidentes quiseram eliminar o catalão da esfera pública, das instituições, das escolas, das universidades, da igreja e até o proibiram de ser falado ao telefone.

Durante os 40 anos da ditadura de Franco, para além das proibições, o ensino e a televisão tinham de ser obrigatoriamente em castelhano. No final da ditadura, a Catalunha recuperou um certo nível de autogoverno.e foram tomadas duas medidas para recuperar a língua: a criação da televisão pública em catalão e a escolarização em catalão.

Foram iniciativas com um grande consenso social e político, que conseguiram que o conhecimento do catalão chegasse a 90%. Isto fez do catalão um exemplo para as línguas minoritárias, sem o apoio de um Estado, que não querem desaparecer.

No entanto, a percentagem de pessoas que usam habitualmente o catalão está diminuindo porque a Constituição Espanhola define o castelhano como única língua oficial. Os seus falantes têm o direito de utilizá-lo em todos os territórios autónomos e os falantes de outras línguas têm a obrigação de conhece-lo.

Como todos os falantes de catalão sabem castelhano, mas nem todos que falam espanhol sabem catalão, ele não é tão necessário e está perdendp adeptos entre os recém-chegados. Embora 10 milhões de pessoas falem catalão (comparável ao dinamarquês, norueguês, húngaro ou grego), os catalães têm muito menos direitos porque sua língua está sujeita a políticas que a diminuem.

A ONG Plataforma per la Llengua documentou 52 casos de discriminação linguística contra falantes de catalão em 2020. Este número é apenas a ponta do iceberg, uma vez que muitas discriminações não são relatadas e muitos falantes de catalão optam por mudar para o castelhano para evitar problemas.

Dado que um terço das discriminações foram praticadas pela polícia, as coisas não progrediram tanto como parece desde a época de Gaudí. E, embora o grau de discriminação e violência tenha variado ao longo do tempo, o objetivo de todos os governos espanhóis tem sido sempre o mesmo: conseguir uma população homogeneamente castelhana.

Não é, portanto, muito surpreendente que tantos catalães tenham chegado à conclusão de que precisam de um Estado independente para sobreviver como minoria nacional. Para mais informações, veja "The Catalan Language":

 

Por Maria M. Garayoa

# Artigo de Luiz Thadeu Nunes e Silva, Eng. Agrônomo, palestrante, cronista e viajante: o sul-americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 143 países em todos os continentes.

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