entrevista
30.Agosto.2014



Eva Lima, produtora cultural

“Estamos vivendo período difícil no teatro sulbaiano”
eva lima lamenta a atriz e produtora cultural Eva Lima, durante um longo bate papo no programa Mesa Pra 2, da rádio Morena FM 98,7, com o jornalista Marcel Leal. Eva acompanhou toda a efervecência da cultura sulbaiana nos anos 80 e 90.
      Depois de passar um tempo em Salvador, voltou para tocar o Teatro Zélia Lessa, que vem preenchendo o vazio cultural deste ano, que foi agravado com o fechamento do Centro de Cultura Adonias Filho no final do ano passado. Confira o papo.

Marcel - Uma das novidades parece que é Guiga Reis tocando algo diferente no teatro Zelia Lessa? É isso?
       Eva Lima- Estamos pensando em fazer terças culturais, mas ele não vai cantar sertanejo, ele vai cantar MPB, bossa nova. Ele costuma entrar no show de cavalo com berrante e tudo. Mas vai ser difícil fazer isso no teatro Zelia Lessa. O espaço é pequeno.

Aquele espaço foi reformado. Hoje quem está tocando?
       A Acate. O local está bem bacana, com capacidade para 150 pessoas. Para quem não sabe a história, o TZL foi construído em 1986 no governo Ubaldo Dantas. Ali era uma cadeia, assim como o local onde funciona a Ficc hoje. Essa sacada dele de tirar a tortura e colocar a cultura foi genial.

O teatro tem uma direção separada?
       Não. Quando pegamos em 86 ficamos até 92, junto com o ator Betão. Depois fomos para Salvador. Depois de 17 anos voltei, dei uma espiada no espaço do Zélia Lessa, enviamos muitos ofícios solicitando o local. Precisamos de espaço pequeno, porque levar 80 pessoas ao teatro não é fácil. Nós conseguimos porque já tínhamos plateia de rua formada.

Quem mais participou dessa conquista?
       A Acate, com Ari Rodrigues, Marquinhos Nô, Jaffet Ornellas e eu. Em dezembro de 2013 fizemos uma gestão compartilhada com a Fundação de Cultura para a reforma. Ali é a casa da gente. Zélia Lessa merece ser vista como está.

Como é feito o agendamento dos eventos?
       Tudo passa por mim, que sou voluntária no teatro. Os shows são gratuitos. Nessa administração apenas Ébano fez um show com bilheteria, porque ficou à cargo a FICC. Os demais são gratuitos, como o Cine Clube Mario Gusmão. Fizemos parceria com a Mocambo para trazer a Bienel de Cultura da Bahia, com 40 filmes. Você assiste um e escolhe outro. Muito bacana. Já estamos na quinta exibição.

O que mais temos no TZL este ano?
       Temos o projeto “Roda de Prosa”. Um profissional de qualquer área discute temas variados e em paralelo acontece voz e violão. Tivemos uma palestra com Piligra (bárbaro!) e o próximo convidado será Alfredo Melo, que tem bons projetos na área ambiental. Já estamos pensando em convidar o cantor Zenon para esta noite. Ele tem um projeto das águas que é lindo.

Estivemos com zero de cultura por quase 8 anos. Estamos sem o Centro de Cultura, que está fechado para a reforma... Sobrou o Zélia Lessa. O que mais ele tem para estre ano?
       Temos um projeto no teatro, às segundas e quartas-feira, onde ensaiamos espetáculos, ouvimos a platéia, o diretor vai captando ideias e o ator se sente mais à vontade. Na estreia, o projeto já está no molde que o público sugeriu, muito bacana.
      O primeiro espetáculo deve se chamar “Cena intima”, com Gal Macuco, Eliane Bela Vista e direção de Gideon Rosa, agora em setembro. Já tivemos um convite da produção do Festival Latino Americano (Fil Bahia) para o espetáculo ficar em cartaz como parte dele.

O que mais vocês tem feito no teatro?..
       Nós somos bichos inquietos (risos). No dia 8 vamos receber os alunos da Ufesba com a aula inaugural. A Acate e o Cine Clube se encarregam das atrações artísticas e estamos nos movimentando em vários locais, como a Casa de Jorge Amado, em Ferradas.
      Nas primeiras terças do mês temos reuniões da Academia Grapiuna de Letras e nas outras o projeto Roda de Prosa. Quando não tivermos a Roda de Prosa teremos as terças culturais, com boa música.

E o que não falta é o bom músico...
       Sem duvida, temos Guiga, Emerson Mozart... Teremos as quartas reservadas para a musica. Já tivemos Jaffet Ornelas, Ébano e vem de novo Jaffet com Léo Jorge. As sextas e sábados tem teatro e dança. Todos os sábados o Cia do Zuki faz o projeto Vem Dançar. É gratuito e temos um público bom, em torno de 50 pessoas.

Soube que tem um livro, “Construção de Colegiados Setoriais das artes na Bahia”, que não é seu mas tem seu dedo...
       A Secretaria Estadual de Cultura criou em 2010 os colegiados setoriais das artes, que englobam teatro, dança, música, artes visuais, audiovisual, circo e literatura. A Bahia foi o primeiro estado e eu coordenei e participei da construção do livro. Dois anos depois eu coordenei as eleições do teatro. Fui elogiada pelo Ministério da Cultura porque a modalidade foi a que mais inscreveu no estado.

De uns anos pra cá o teatro dormiu. Fiz o Trofeu Jupará por quase 20 anos, com 20 peças de teatro adulto e mais 15 infantil concorrendo quase todo ano. Hoje não conseguiria juntar 5. Por que?
       Não tivemos apoio. O teatro aqui é muito rico, tem gente que faz teatro e faz bem, mas está parado. Se vi duas a três estreias de produções foi muito. Tínhamos Marquinho Nô, Aldo Bastos, o Grupo Vozes, o de Márcia e Jorge Batista da Curumim...

Em Ilhéus há grupos e um teatro, mas só o Teatro Popular se mexe. Então não é falta de espaço, é falta de patrocínio, de politica cultural...
       Eu tenho a preocupação se também essa coisa de ter afastado o publico não foi a qualidade do que foi apresentado. Eu conheço grupos que fazem trabalhos genais e tem outros que fazem mais ou menos e que afastam o público.

Tem isso também, mas o público já não ia nesses. Mas temos espetáculos geniais como Teodorico Majestade e o Inspetor Geral, que estão hoje no Teatro Castro Alves.
       A gente já exportou dezenas de bons atores. Para ficar só em alguns temos Jackson Costa e Osvaldinho Mil, que foram locutores na Morena, e Fabio Lago, que participou de filmes nacionais importantes e estão na Globo, que é uma vitrine grande.

       Nessa safra que foi para Salvador tem ainda Marcelo Augusto, Marcos Cristiano, Betão e eu, que passei uma boa temporada lá. Vamos estrear o espetáculo “A mala”, com Lucas Oliveira, que é um sobrevivente. Tem ainda os meninos da Uesc, Hanns Muller, Rafael e Márcia Mascarenhas.
       Sofro muito em não ver essa turma crescer. Por isso estou à frente do Zelia Lessa, para ver se a gente consegue futucar algumas coisas. Tem um grupo ai, do Coletivo Gambiarra, muito bacana e é isso que me faz estar por lá e fomentar a coisa.

Voce não acha que precisaríamos de uma politica cultural em Itabuna?
       Sem dúvida. Mas tem aquela coisa: a gente não procura. Os artistas são muito desagregados aqui. Tivemos reuniões para organizar os colegiados com apenas três pessoas e alguns poucos musicos...

Quando a Morena começou a tocar os artistas grapiunas, fiquei dois anos tentando fazer os artistas se juntar e formar uma editora. Ninguém se mexeu. Eu é que tive que criar uma.
       Não me conformo com o comodismo. Quando vejo que a coisa não está dando aqui, já fui em Ubaitaba e fiz uma oficina de teatro... Acho que você tem que correr atrás. Voce lembra do espetáculo “Cacau verde ou nem tudo que reluz é ouro”? Fizemos uma temporada enorme por mais de um ano.
      Esse espetáculo virou um livro e fomos para o Festival de Cinema em Ilheus, com Chico Buarque e Ruy Guerra, que ficou interessadíssimo em usar para um roteiro de cinema. Se fosse hoje, tinha virado um filme. Mas na época José Delmo não acreditou muito.

Lembro do Festival Nacional de Teatro (Festeatro) em Ilhéus, de Hermilo e Bruno, com uma imensidão de peças do Brasil inteiro. Eram espetáculos maravilhosos.
       Esse festival foi bárbaro e a comissão julgadora não era nenhuma arraia miúda. Era pessoal de Brasilia e do Rio de Janeiro. Não entendo porque avançamos tanto e perdermos tudo. Perdemos o Projeto Seis e Meia. Tinhamos o Circo Folia da Gabriela. Tivemos o Projeto Pixinguinha... Uma pena.


 
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